sábado, 2 de junho de 2007

A rainha das gargalhadas alvas

Como muitos outros dias andava eu a ler um blog de uma amiga "palavras-la.com" quando me deparei com esta história de encantar. Com a devida autorização aqui vos deixo a história para todos podermos sonhar um pouco com esta maravilhosa história...

Era uma vez um príncipe que costumava passear pelos campos de terra, enquanto o sol iluminava as flores e o vento abanava ligeiramente os troncos das árvores. O vento soava devagarinho, como uma melodia suave que se arrastava pelo campo e que lhe fazia cócegas ao ouvido. O príncipe gostava de andar de cavalo pelo campo e, às vezes, de apanhar pedras e deixar-se ficar atirando-as para dentro da água do riacho. Ficava horas, assim, distante de tudo.
Um dia, quando o príncipe parou o cavalo, avistou uma rapariga. Sentada à beira do riacho, parecia estar ligeiramente ferida. De vez em quando, libertava uns sussurrados gemidos que despertavam ainda mais a atenção do príncipe, levando-o a aproximar-se ainda mais do riacho.
- Desculpe. Não quero intrometer-me. Feriu-se? - perguntou o príncipe, com os olhos muito abertos de preocupação.
Mas a rapariga deu um salto com o susto e, depois, levantou os olhos para ver de onde vinham as palavras. Quando viu o rosto tão delicado que lhe falava, engasgou-se e tossiu. Ficou tão envergonhada que tapou logo a ferida.
- Não foi nada de especial. Vinha a andar por ali e raspei a perna numa ramagem solta que estava caída no chão.
- Mas precisa de ajuda? Eu posso ir chamar alguém. O meu cavalo está ali.
- Oh, não! - Apressou-se a responder a rapariga. - Eu fico bem. - E, depois, sorriu. - Eu devia ter tido mais cuidado, mas sou sempre muito distraída. Quis aventurar-me a fugir de uma abelha, mas tropecei e magoei-me.
O príncipe abriu os olhos ainda mais e perguntou, incrédulo:
- Também foi picada por uma abelha?
A rapariga soltou uma gargalhada e respondeu:
- Oh, não! Penso que ela tenha ficado mais assustada do que eu, quando eu cai daquela maneira.
Então, o príncipe respirou mais fundo, aliviado, e sorriu. Foi de tal modo intenso o alívio que acabou por sentar-se para se recompor do susto. Era estranho ter ficado assustado, pois afinal ele acabava de a conhecer, mas sentia-se realmente aliviado. E a rapariga ria. A rapariga era tão engraçada, enquanto ria de si mesma, que o príncipe ficou maravilhado com as suas gargalhadas.
A empatia entre os dois foi tão grande que a rapariga também não fez por se ir embora. Ficaram ali sentados. Ela ia limpando a ferida e ele ia contando histórias divertidas. Depois, ela ria das histórias que ele contava e ele ria-se do modo feliz como ela ria. Levaram a tarde inteira a rir um com o outro e o tempo passou tão depressa que nem deram por ele. Na verdade, só se aperceberam de que já era muito tarde quando as luzes do céu começaram a ficar mais escuras e já não conseguiam distinguir muito bem, ao longe, o corpo das gaivotas que voavam.
Envergonhados por terem esquecido o tempo, mas satisfeitos por terem conversado tanto, acabaram por se despedir um do outro. O príncipe tinha de ir para o castelo porque lá jantavam sempre a horas certas e a viagem de cavalo ainda iria demorar um pouco. A rapariga, por sua vez, também tinha de regressar para a sua casa, onde a sua família a aguardava.
Durante muitos dias, a rapariga continuava a estar sentada à beira do riacho e o príncipe continuava a aparecer de cavalo. Agora, não apenas com o pretexto de ir atirar pedras para a água, mas principalmente de encontrar a rapariga. Gostavam tanto de conversar um com o outro que já mal conseguiam dormir tranquilamente. Ela pensava nas histórias engraçadas dele. Ele pensava nas gargalhadas vivas dela.
Um dia, o príncipe deixou de aparecer. A rapariga continuava a lá ir à procura dele, mas só encontrava a água do riacho, as pedras e os arbustos caídos sobre a terra. Não via o cavalo branco dele. Não via mais o rosto delicado dele. Limitava-se a vê-lo nos sonhos que ela tinha e que a embalavam todas as noites. Havia alturas em que chegava a sentir o peito quente, o coração a ferver de saudades, mas não podia fazer nada para voltar a estar perto dele.
Numa tarde, a rapariga voltou ao riacho e voltou a não o encontrar lá. Ficou tão triste que pensou em todas as maneiras possíveis e imaginárias para voltar a vê-lo. Pensou até que, se se voltasse a magoar, talvez ele voltasse a surgir do inesperado só para lhe perguntar se ela precisava de ajuda. Mas não teve coragem de se magoar. Só que também não tinha coragem de se ir embora. Queria esperar por ele. Custasse o que custasse. Demorasse o que demorasse.
Os dias foram passando e a rapariga continuava triste, sem saber do príncipe que tinha conhecido à beira do riacho. Todas as tardes ia procurá-lo. Em nenhuma dessas tardes o encontrava. Um dia gritou pelo nome dele. Encheu os pulmões de ar e gritou o nome dele com todas as forças que tinha. Gritou com tanta força que até os olhos se encheram de lágrimas.
Quando olhou para trás, o príncipe estava de pé em frente ao cavalo branco. Os olhos dele eram tão brilhantes que o rosto dela rapidamente se deixou iluminar. Sorriu. Sorriu de tanta felicidade que sentia vontade de correr para perto dele, de o abraçar com toda a força. Então, o príncipe caminhou em direcção a ela e perguntou-lhe, enquanto lhe segurava na mão:
- Muito tempo esperei por este momento. Queres casar comigo? Tornar-te-ei a minha esposa, digna do meu amor e da minha dedicação eternos.
A rapariga ficou sem saber o que responder. Por momentos, não sabia sequer o que pensar.
- Mas eu? Há quanto tempo não te via aqui! Deixaste de aparecer e agora pedes-me em casamento, assim, de repente! - A voz da rapariga tremia. Ela sentia-se tão ansiosa, mas tão feliz. Mas sentia-se também incrédula. Há tanto tempo que ela não sabia dele. Onde teria ele andado? Porque não tinha ido ter com ela? - Eu quero casar contigo. Esperei todos estes dias, todas estas semanas e todos estes meses por rever-te. Quero tanto casar contigo e ser alvo do teu amor e do teu afecto quanto preciso do ar para respirar.
Então, o príncipe e a rapariga das gargalhadas alvas casaram. E, depois do casamento, depois da cerimónia que encheu de flores todos os campos e que trazia os meninos com os cabelos doirados a segurarem as alianças, o príncipe João amparou a sua recente esposa com o braço, beijou-lhe os lábios docemente e sussurrou-lhe ao ouvido:
- Minha querida, estive sempre por perto. O teu sofrimento era o meu sofrimento. Via-te chorar e nunca mais o som delicioso das tuas gargalhadas me enchiam o peito de felicidade. Queria tocar-te, mas não podia. Queria sossegar-te, mas não podia. Precisava de ter certezas de que o que sentia por ti era recíproco.
- E encontraste-as? - Perguntou ela, com os olhos raiados de lágrimas.
- Sim. E nunca mais as quero perder. Quero-as para sempre comigo, para sempre connosco.
E foram muito felizes para sempre...

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