terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Cartas de Amor


Todas as cartas de amor
são
Ridículas
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas


Rambém escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,

Ridículas

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser

Ridículas

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor
É que são
Ridículas

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas


A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas

Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente

Ridículas


Álvaro de Campos, heteronômio de Fernando Pessoa